quarta-feira, 3 de setembro de 2008

lembras-te?

lembras-te daquela vez, na serra da Freita, em que estávamos completamente perdidos no meio do monte, a subir e descer por caminhos por onde nem o Diabo andou, entre um barranco e uma falésia, com fios de água a escorrer no xisto e na ardósia que pisávamos? lembras-te de que vimos uma cobra num muro de pedras daqueles que já serviram para dividir terras sabe-se lá de quem, para cultivar sabe-se lá o quê, e que tive que passar ao largo, com as pernas a tremer e os cabelos em pé? lembras-te de como estávamos aflitos, de como olhávamos para a carta topográfica de antes da Primeira Guerra, à procura de pontos de referência que já não existiam? lembras-te de como tinha a mochila velha e rota e de como um dos ferros já se me espetava no fundo das costas, do lado direito? lembras-te das vertigens, do suor, do cansaço, do frio, da vontade de chegar a casa?
deste-me a mão, lembras-te?
b. b. booker
setembro de 2008

2 comentários:

  1. Adorei este texto Raquelóide! Está um espetáculo.
    Para ser sincera não me lembro de nada disso. Mas lembrei-me de dizer que este "lembras-te" está bem lembrado e muito bem escrito.

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  2. lembro, claro. naquela altura, era tão importante fazer por ti qualquer coisa, qualquer ínfima coisa... agora tens sido tu a dar-me a mão, a devolver-me a qualquer coisa exponenciada.

    obrigada.

    *

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