segunda-feira, 28 de setembro de 2015

a beleza relativa dos lugares comuns ou uma viagem em três metades


















É um lugar-comum dizer que a beleza é relativa. E, na relatividade das coisas, sinto-me encantada no meio do que é simples e familiar, no meio do que é comum, como aquele dia indeciso entre a chuva e o sol, a cidade desperta e domingueira. Portas abertas para exposições, esplanadas em montra, carros antigos em desfile, lojas de recordações e outras belezas relativas.

(Primeira Metade) Demorada nos corredores e escadarias do Centro Português de Fotografia, já depois de deambular por uma colecção em empréstimo da Universidade de Granada, e já depois de me reflectir nas paisagens de Lagoa captadas na objectiva de João Mariano, dei por mim entre os rostos do Núcleo Histórico da Cadeia da Relação. Outra vez presa ao desencanto no olhar de pessoas comuns e também das outras, cujos nomes simbolizam romantismo e penas sofridas em nome de amores mais sofridos ainda. Gosto desta sala por ser comum. E porque não tem imagens sem legenda nem legendas ‘sem título’, vícios que me parecem de muita preguiça, e eu, que me prendo às palavras, gosto deste canto onde cada imagem carrega muitas histórias.

(Segunda Metade) De volta ao terreiro e a fazer caminho para a Vitória foi preciso habituar os olhos à luz que ecoava no casario e abria, ao longe, as cascatas do Morro da Sé. A mesma luz que se escorria nas ruas a descer para a Ribeira, junto com o rumorejar constante de vozes em várias línguas. Desci, atenta a tudo, com a vontade e a missão de chegar à beira rio e ficar, sentada e calmamente, a absorver aquele pedaço de Porto à minha volta. Mas, o tempo tresmalhava-se com a rapidez do costume e a vontade e a missão voltaram comigo, calçadas acima, atrás de ser pessoa responsável, em dia comum sem viagens nem metáforas. Subia triste, a experiência roubada a meio, na cabeça soavam as ideias-chave do dia: fugir dos lugares-comuns como da peste, deixar as coisas acontecer, dizer ‘why not?’.

(Terceira Metade) O braço levantou-se-me com vagar e o táxi parou na minha frente. Entrei, corada, câmara fotográfica ao peito e mochila nas costas, mais uma entre os muitos turistas que cruzavam a cidade. O senhor Humberto é um taxista moderno numa cidade antiga. Trazia um auricular na orelha direita, um monitor electrónico no tablier e a música muito alta, uma qualquer americanice daquelas que todos os dias enchem as ondas de rádio. A menina de onde é, perguntou. Sou da Beira, respondi sem mentir e sem, contudo, dizer a verdade. Veio ver os carros antigos, disse ele e sorriu. O senhor Humberto era um achado e fazia conversa como se soubesse das faltas com que eu subia de volta aos Clérigos. Disse-lhe que não, que vinha ver o Porto. Ele disse que fazia bem, que vinha muita gente e que era bom porque fazia circular o dinheiro. Falou outra vez dos carros antigos e depois dos arraiais que havia na Ribeira pela noite, das rusgas e de como ainda vinham mais turistas para o S. João, e que era boa altura para fazer circular o dinheiro. Eu concordava timidamente, sem querer definir-lhe o rumo da conversa, disse-lhe que gosto muito do Porto que me traz boas recordações. Percebeu-me mal, talvez por causa da música tão alta, disse-me que sim, que por todo o lado se podiam comprar recordações nas lojas, que eram boas para fazer circular o dinheiro. Mas tenha cuidado menina, muitas lojas a vender galos de Barcelos são de indianos, aquilo no país deles é tudo muito pobre, vêm para aqui vender as nossas coisas que são mais bonitas. O caminho de carro era curto e num instante estava a despedir-me do senhor Humberto, agradecida pelos votos de saúde e continuação. Depois, fiquei a pensar se não era bom fazer circular o dinheiro para a Índia e de como na Índia se devem vender recordações tão bonitas como as nossas. Fiquei a pensar na relatividade da beleza e voltei dos retratos de Camilo e Ana Plácido: feios os dois e, um para o outro, de uma beleza desmedida. Pessoas comuns como eu, que habitaram os mesmos lugares comuns onde eu viajo agora, em dias desfasados de tempo comum e vidas absolutamente extraordinárias.

raquel patriarca | dezassete.seis.doismilequinze

segunda-feira, 21 de setembro de 2015

a vida não é só livros... há também as bibliotecas #5

2006: Minsk, Bielorrússia
Biblioteca Nacional da Bielorrússia



A Biblioteca Nacional da Bielorrússia foi fundada em 1922 dedicada, sobretudo, à guarda de documentos de autores bielorrussos. Foi, em tempos, a 3ª maior biblioteca da União Soviética, mantendo-se ainda como o mais importante polo de informação e cultura na Bielorrússia. A sua colecção inclui cerca de 8 milhões de documentos em vários formatos, que conta, desde 1993, com um fundo de documentação electrónica.
Conhecida não só pelos serviços que presta, a Biblioteca Nacional da Bielorrússia é uma das mais visitadas atracções turísticas em Minsk. Está instalada, desde 2006, num novo edifício nas margens do rio Svislochi. É uma estrutura com 72 m de altura e 22 andares, no topo dos quais existe um terraço de onde se vê toda a cidade. Oferece postos de trabalho para 2.000 leitores e uma sala de conferências com lotação de 500 lugares. A sua característica mais notável é ter a forma de um rombicuboctaedro, um sólido geométrico de Arquimédes que se obtém a partir da expansão do cubo e cuja mais antiga representação foi desenhada por Leonardo Da Vinci. 
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imagens aqui e aqui

quarta-feira, 17 de junho de 2015

em nevogilde a brincar ao verão

zuuummm... 
tantas zarelhas que há por aí!!!
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centro social e paroquial s. miguel de nevogilde | dezassete.junho.doismilequinze
fotografia | eliana miranda

terça-feira, 16 de junho de 2015

era uma vez um livro que ganha vida
















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na segunda-feira dia 8 recebi um telefonema que me deixou orgulhosa, curiosa e muito feliz.  os alunos da escola EB 2/3 de Gueifães tinham decidido encenar o texto do Era Uma Vez o Porto e eu acabava de ser convidada para a estreia. pois, não se que vos diga. foi muito bonito e indizivelmente especial ver assim o meu livro a ganhar vida e voz, com tanta alegria e entusiasmo. foi inesquecível. mesmo.
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muito e muito obrigada à professora Anabela Guimarães que, há uns meses, me levou a conhecer tão magníficos artistas, à professora Adriana Viseu que coordenou toda a preparação e execução do espectáculo.
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sobretudo, muito e muito obrigada à equipa de jovens maravilhosos que conheci nesse dia como Porto, Pedro Tanoeiro, Vimara Peres, Mulheres do Douro, Sebastião, Almeida Garrett, Alexandre Herculano e Rosinha, mas que, na verdade, se chamam Diogo Pereira, Bruno Teixeira, Jéssica Brás, Anabela Conceição, Sofia Serrano, Renata Oliveira, Helena Santos, Inês Reis e Maria Inês Pereira.
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um abraço imenso para todos. foi brilhante!
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eb 2/3 gueifães - maia | oito.junho.doismilequinze

sexta-feira, 12 de junho de 2015

a locomotiva vai partir!...

foi muito boa a manhã de domingo na Locomotiva. um abraço a todos os que vieram brincar connosco, com a história do Era uma Vez o Porto e com a Papa-Livros.
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largo da estação - s. bento - porto
sete.junho.doismilequinze
fotografias | Pedro Ribeiro e Miguel Ribeiro

quinta-feira, 4 de junho de 2015

domingo, às 11h, locomotiva, s. joão e histórias do porto


















pois é com muito gosto, e toda a rapioquice que a ocasião exige, que eu e a Adélia Carvalho estaremos na manhã do próximo domingo em S. Bento a contar histórias da História do Porto.

 vemo-nos por lá!

Ludocomotiva apresenta contos, oficinas e viagens de comboio aos domingos
15-05-2015
A Locomotiva, projeto da PortoLazer para dinamizar a zona de São Bento, junta-se à Livraria Papa-Livros e promove um programa de animação cultural para famílias até ao fim de julho.
Em todos os domingos entre 17 maio e 30 de julho (excluindo 14 de junho), o Ludocomotiva apresenta atividades em São Bento, das 11h00 às 13h00. As sessões começam sempre no Largo da Estação com a "Hora do Conto" e um contador/escritor convidado. Adélia Carvalho, Carlos Granja, Raquel Patriarca, Marta Bernardes ou Teresa Guimarães são alguns dos nomes que irão contar estórias em cerca de 30 minutos.

Depois, até às 12h15, as manhãs prosseguem com oficinas, de construção de um flip book, de música, de construção de marionetas. de escrita criativa ou de ilustração, entre outras.

No final, as famílias que participaram nas atividades são convidadas a fazer uma pequena viajem de comboio, de ida e volta, entre as estações de São Bento e Campanhã, na companhia do contador de histórias ou escritor de cada domingo. O objectivo é dar a conhecer melhor a arquitetura e o desenho da estação, ao mesmo tempo que se criam hábitos alternativos de transporte.

Como recordação, todas as famílias levarão para casa um pequeno livro ou outro objeto que tenham construído nas oficinas.

Cada sessão da Ludocomotiva é gratuita, mas requer inscrição: locomotiva@portolazer.pt.


PROGRAMAÇÃO

17/05
11h00 | Hora do Conto: "Era uma vez um Cão", com Adélia Carvalho;
11h30 | Oficina de construção de um flip book, com a ilustradora Evelina Oliveira;
12h15 | Ludoviagem (ida e volta entre as estação de São Bento e Campanhã);

24/05
11h00 | Hora do Conto: "O Rei Belarmino não é Tenor", com Carlos Granja;
11h30 | Oficina do Som, com os músicos Marcel Pascual e Patrícia Cadaveira;
12h15 | Ludoviagem (ida e volta entre as estação de São Bento e Campanhã);

31/05
11h00 | Animação pedagógica/espectáculo de ventriloquia "Os Amigos do Cris";
11h30 | Construção de uma marioneta com uma bola de ténis;
12h15 | Ludoviagem (ida e volta entre as estação de São Bento e Campanhã);

07/06
11h00 | Hora do Conto: "Era uma vez o Porto", com Raquel Patriarca;
11h30 | Oficina de escrita criativa "Era uma Vez o Porto", com Raquel Patriarca;
12h15 | Ludoviagem (ida e volta entre as estação de São Bento e Campanhã);

21/06
11h00 | Hora do Conto: "A Inocência das Facas", com Marta Bernardes;
11h30 I Oficina de ilustração: técnicas de pintura com objetos diversos (com Marta Bernardes);
 12h15 | Ludoviagem (ida e volta entre as estação de São Bento e Campanhã);

28/06
11h00 | Hora do Conto: "Era uma vez um Castelo", com a Adélia Carvalho;
11h30 | Oficina de ilustração: construção de um castelo (com Cátia Vidinhas);
12h15 | Ludoviagem (ida e volta entre as estação de São Bento e Campanhã);

05/07
11h00 | Hora do Conto: Mocho comi, com Inácia Cruz (Companhia Arco Íris dos Contos);
11h30 | Oficina de ilustração: carimbos com plantas (com Marta Madureira);
12h15 | Ludoviagem (ida e volta entre as estação de São Bento e Campanhã);

12/07
11h00 | Hora do Conto, com Elvira & C.ª;
11h30 | Animação musical e contação de histórias com Liberdade Gustavo, Elvira Cristina e Paulo Almeida;
12h15 | Ludoviagem (ida e volta entre as estação de São Bento e Campanhã);

19/07
11h00 I Historioscopio Teatro de Formas Animadas: "Das Tripas Coração";
11h30 | Oficina de ilustração, com Samanta Jesus;
12h15 | Ludoviagem (ida e volta entre as estação de São Bento e Campanhã);
                              
26/07
11h00 | Hora do Conto: "A Floresta Perlimpimpim", com Teresa Guimarães; 
11h30 | Construção de personagens em cartão/Oficina de ilustração com Anabela Dias;
12h15 | Ludoviagem (ida e volta entre as estação de São Bento e Campanhã).


sexta-feira, 8 de maio de 2015

os Livros com Bicho levam a primavera ao Jardim de Infância de Monte Espinho em Leça da Palmeira

feliz por partilhar a arte de uns amigos que acabei de conhecer e de quem gostei muito!
beijinhos para eles. muito e muito obrigada pelo carinho.
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André, 3 anos
Francisco, 3 anos
Maria, 3 anos
Martim, 3 anos
Tiago, 3 anos
Beatriz, 4 anos
Clara, 4 anos
David, 4 anos
Dinis, 4 anos
Leonardo, 4 anos
Tomás Maia, 4 anos
Íris, 5 anos
Martim, 5 anos
finalmente, um beijinho especial ao Tomás, 4 anos, que em vez da Abelha Zarelha,
da Barata Patarata e  do Escaravelho Trolaró, decidiu desenhar 
a Raquel Patriarca e o Rui Moura!

segunda-feira, 27 de abril de 2015

a inocência das facas

A Editora Tcharan e a Delegação da Cruz Vermelha da Trofa em o prazer de o/a convidar para o lançamento e sessão de autógrafos do livro A inocência das facas, no próximo sábado, dia 2 de Maio, pelas 16h00, na Livraria Papa-Livros, com apresentação de Manuel Pizarro, Vereador da Acção Social da Câmara do Porto.

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com textos e ilustrações de:
José Saramago e David Pintor; Filipa Leal e João Vaz de Carvalho; Raquel Patriarca e Cristina Valadas; Manuela Costa Ribeiro e Anabela Dias; Marta Bernardes e Marta Madureira; Manuel Jorge Marmelo e Evelina Oliveira; Adélia Carvalho e Patrícia Figueiredo; Valter Hugo Mãe e Teresa Lima; Inês Fonseca Santos e Alex Gozblau; Emílio Remelhe e Gémeo Luís; Álvaro Magalhães e Maria Remédio; e Afonso Cruz.

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Livraria Papa-Livros | Rua Miguel Bombarda, 523 | Porto, Portugal

sexta-feira, 13 de março de 2015

cartas de viagem | pukara | perú

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sorriso no mercado de pukara - perú















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No caminho de Cusco para Puno fizemos três ou quatro paragens. Pareceu-me que em todas se escolhiam os lugares mais frios mas, penso agora, que era uma questão de altitude e que o frio era uma condição difícil de evitar. Em todas as paragens havia frio e um mercado. Mercados pequenos de meia dúzia de bancas e mulheres a vender louças ou coisas de tecidos coloridos aos turistas. E mercados imensos, próprios dos dias santos com feira e romaria, as bancas a preencher as ruas, num perder de vista de objectos incoerentes. Vendia-se de tudo. Estrelas-do-mar e ervas secas, panos e roupa, écrans lcd, peças de lã acabadas de tosquiar ainda sujas e a cheirar ao corpo que antes cobriam, pilhas eléctricas e peles de cobras enormes, santinhos de louça e deuses incas de madeira, coisas de comer e coisas de brincar. E as mulheres, que vendiam de tudo sentadas no chão e rodeadas de crianças tinham, elas próprias, o olhar das crianças. Gostei das tranças e dos chapéus, das peles morenas e das mãos fortes mas demorei-me muito nos olhos delas. Demorei-me a pensar nas razões da completude, da paz que se guarda por dentro e não se vê a não ser naquele olhar. E, todavia, aquele olhar não estava à venda. Tive pena.
 

in: diário de viagem: equador e perú | vol. 2, pp. 250-251
raquel patriarca | quinze.julho.doismiletreze
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