sábado, 7 de fevereiro de 2009

uma página do diário

ontem foi a segunda manhã consecutiva que me levantei sem ter dormido (rigorosamente) nada. anteontem já fui menos coerente do que é costume (e já é costume ser pouco), mas ontem foi um dia de puro esforço e desespero. tudo se passou como se estivesse a mover-me num filme em câmara lenta forçada, como se toda a realidade fosse arrastada atrás de mim, notoriamente contrariada.
cada vez que pegava no carro respirava fundo e concentrava-me muito e depois… bem, depois conduzia exactamente como os homens dizem que as mulheres conduzem: sem reflexos, sem visão periférica e sem noção da profundidade.
todo o trabalho que fiz durante o dia foi do mais mecânico que na agenda se podia encontrar; não falei com clientes, não toquei em nada que pudesse estragar e não tomei decisões. e quando digo que não tomei decisões quero dizer que, em absoluto, não tomei qualquer decisão durante todo o dia. nada. não fui capaz de dar uma resposta decente a situação nenhuma. tipo “ – queres arroz ou batatas? – não sei…”.
a simples função da fala revelou ser de tal complexidade que não consegui articular uma só conversa de que me possa não envergonhar. para onde raio terão ido aquelas coisas que se usam para dizer coisas? que são letras juntas e que representam ideias e assim… está debaixo da língua, espera… palavras! é isso mesmo! onde é que elas estão?
é terrível. é incapacitante e redutor e terrível. é que já nem escrever consigo…
os livros não têm descanso na mesa-de-cabeceira. é um vê se te avias de pega, lê e anda, e já não sei onde os pôr. o problema é que não posso ler nada de sério ou verdadeiramente interessante porque, ao fim de uma semana disto, começo a misturar personagens, cenários e enredos numa só história que, a esta distância, me parece algo inconsistente…
brincadeiras à parte, vou ter de pôr a senhora dona insónia no topo da lista dos assuntos urgentes. prometo que sim. amanhã faço isso, que agora estou cheia de sono.
raquel patriarca
sete.fevereiro.doismilenove

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