'silêncio surdo de ecos vazios'
linhares - celorico da beira - serra da estrela
que me inunda a
memória
de gestos serenos
e dias de sol
uma melopeia de coisas simples
o encanto de uma
história
contada de cor
‘era uma vez
há muitos muitos anos
numa terra distante...’
o murmúrio de uma oração
e o toque das contas
do terço
o abrir -
- vagaroso
de uma manga
à procura de um lenço
o som da água
a correr no ribeiro
empurrado pelo vento
e o bailar da roupa
que se mergulha e esfrega
ao ritmo
sincopado
de uma cantiga sem tempo
o burburinho
dos dias de feira
o tamborilar das compras
na cesta
o toque dos sinos tão perto
o encadeado dos cumprimentos
‘como está?
vamos indo obrigada
até amanhã
se deus quiser'
o flautear de uma
gargalhada
no fim da brincadeira
o compasso do
caminhar
em direcção a casa
o estalar do
pão de trigo
à hora da merenda
o suspiro cansado e
fundo
ao pousar
as mãos nodosas
no colo
alisando
resignadamente
as rugas da pele
as pontas do avental
o sussurro doce de uma
canção
de embalar
o soluço de
um afago e de um
beijo
antes de deitar
…
há um silêncio surdo
que me ensopa a
alma
de ecos vazios
e ausências doridas
‘era uma vez
há muitos muitos anos
numa terra distante...’
aos avós
raquel patriarca
dezanove.maio.doismiledez
Sem comentários:
Enviar um comentário