quarta-feira, 8 de setembro de 2010

diálogo

e eu disse: então é assim? teimas em não lavar os dentes? pois ficas a saber que te vou castigar. porquê, perguntou ele muito calmo. porque me desobedeceste, era eu a constatar o óbvio. voz serena e o rosto firme. desobedecer à mãe é a pior coisa que alguém pode fazer na vida, continuei num daqueles entusiasmos naturais das pessoas que, como eu, são dadas ao exagero. ele parou a meio do corredor e voltou-se, sério. solene, suportei os cinco segundos de silêncio daquele momento de revelação essencial na descoberta de um quadro de valores e referências, futuros alicerces estruturais do carácter do meu filho.
olha mãe, a voz dele era mais funda e solene que a minha, usar peúgas com sandálias é muito pior.

voltei para a cozinha.
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diálogo de peúgas
numa manhã entre vinte e quatro de agosto e trinta de setembro de dois mil e dez
raquel - mãe, trinta e seis anos
pedro - filho, seis anos
r.
oito.setembro.doismiledez

4 comentários:

  1. com um sentido de oportunidade destes, com certeza não lhe hão-de fazer falta as referências…

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  2. Puxa... se isso é genético... mando a Carolina para tua casa! Fico sem palavras. A vossa relação é inspiradora! Beijinhos.
    Inês Meireles

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  3. muito bom!!!

    Já sabes, para a próxima, antes de ralhares com ele por causa de coisas fúteis como lavar os dentes descalça as meitas ou então calça uns sapatitos!!!!!!


    aaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaa
    ahahahahahahahahahaahhaah

    jokas
    ;)

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  4. Lamento a falta de solidariedade, mas parece-me que o miúdo tem uma noção clara das prioridades. Não desesperes. Tenho a certeza que esta habilidade lhe vem de ti!
    :-))
    BPO,
    S

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