sorriso no mercado de pukara - perú |
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No caminho de Cusco para
Puno fizemos três ou quatro paragens. Pareceu-me que em todas se
escolhiam os lugares mais frios mas, penso agora, que era uma questão de altitude
e que o frio era uma condição difícil de evitar. Em todas as paragens havia frio e um
mercado. Mercados pequenos de meia dúzia de bancas e mulheres a vender louças
ou coisas de tecidos coloridos aos turistas. E mercados imensos, próprios dos dias
santos com feira e romaria, as bancas a preencher as ruas, num perder de vista
de objectos incoerentes. Vendia-se de tudo. Estrelas-do-mar e ervas secas, panos
e roupa, écrans lcd, peças de lã acabadas de tosquiar ainda sujas e a cheirar
ao corpo que antes cobriam, pilhas eléctricas e peles de cobras enormes, santinhos de
louça e deuses incas de madeira, coisas de comer e coisas de brincar. E as mulheres, que vendiam de tudo sentadas no chão e rodeadas de
crianças tinham, elas próprias, o olhar das crianças. Gostei das tranças e dos
chapéus, das peles morenas e das mãos fortes mas demorei-me muito nos
olhos delas. Demorei-me a pensar nas razões da completude, da paz que se guarda
por dentro e não se vê a não ser naquele olhar. E, todavia, aquele
olhar não estava à venda. Tive pena.
in: diário de viagem: equador e perú | vol. 2, pp. 250-251
raquel patriarca | quinze.julho.doismiletreze
raquel patriarca | quinze.julho.doismiletreze
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