quarta-feira, 7 de março de 2018

o sentido da oportunidade

Sentou-se ao meu lado no banco do jardim uma história tímida. Carregava, apesar da leveza aparente, uma concretude e uma dignidade merecedoras. De escrever e de contar. Trazia um personagem. Um só mas muito espesso e complexo, com toda a longevidade de tons entre o ódio de um sicário e a musicalidade de um anjo. Perdi-me de amores por ela – a história – e também por ele – o personagem. As mãos tremeram-me e todas as palavras se adivinhavam já em mancha fluente no que outrora havia de brancura em páginas novas. Mas o sol, que fora escasso por esses dias, aquecia-me agora de mansinho contra o banco do jardim. E eu, perdida de amores por ela – a história – e também por ele – o personagem – fechei os olhos e pousei as mãos trementes. Suspirei imóvel na quentura do dia e a história do personagem ficou, suspiradamente, por contar.

raquel patriarca | vinteeseis.janeiro.doismiledezoito

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