"que faço quando tudo arde?"
sá de miranda, 1481-1558
sá de miranda, 1481-1558
eu,
inquisidor,
única esperança
de remissão,
ardo nas chamas da salvação divina.
eu,
inquisidor,
convoco o homem
o herege pertinaz,
posto a tormento no suplício
vê nascer a verdadeira fé
em cima do potro ou nas cordas do polé
essa criança que ofende
o pai
reacende as brasas do amor celeste
eu,
inquisidor,
nada vejo:
nem sonhos,
nem palavras,
nem a carne rosácea que perante mim se disforma
vejo a alma
o pecado e o vício
é este o meu santo ofício.
eu,
inquisidor,
queimo as palavras, os sonhos,
a carne cinzenta que perante mim se reforma
e, quando tudo arde,
sou eu sublime
sou eu santidade.
b. pecorabuona
nove.dezembro.doismileoito
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