capítulo primeiro
uma caixa
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era uma vez uma caixa, muito bem guardada numa velha arca de madeira de cânfora. não era uma caixa qualquer. era uma caixa muito especial. à primeira vista, para um olhar pouco atento ou desentendido, podia parecer uma vulgar caixa de papelão. uma caixa velha como todas as outras caixas velhas.
a verdade era bem diferente.
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pouco colorida, suja ou esfumada entre os cinzentos e os castanhos, tinha uma natureza discreta e serena. há já muito tempo alguém a tinha coberto de palavras recortadas em jornais, livros, revistas, sebentas de escola, cadernos de merceeiro e toda a sorte de papéis escritos.
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a base era um quadrado perfeito, equilibrado e estável. de cada canto partiam linhas direitas e firmes, arestas bem definidas que serviam de moldura às suas quatro faces gémeas.
a tampa, que encaixava como uma coroa na cabeça de um monarca honrado e justo, era simples, elegante e tinha as abas reforçadas a couro, como as cantoneiras de um livro antigo. exactamente no meio da face superior da tampa estava colado um pedaço de papel, amarelado e com os cantos recortados, onde letras manuscritas que traziam imagens de outro tempo, desenhavam uma única palavra:
a verdade era bem diferente.
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pouco colorida, suja ou esfumada entre os cinzentos e os castanhos, tinha uma natureza discreta e serena. há já muito tempo alguém a tinha coberto de palavras recortadas em jornais, livros, revistas, sebentas de escola, cadernos de merceeiro e toda a sorte de papéis escritos.
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a base era um quadrado perfeito, equilibrado e estável. de cada canto partiam linhas direitas e firmes, arestas bem definidas que serviam de moldura às suas quatro faces gémeas.
a tampa, que encaixava como uma coroa na cabeça de um monarca honrado e justo, era simples, elegante e tinha as abas reforçadas a couro, como as cantoneiras de um livro antigo. exactamente no meio da face superior da tampa estava colado um pedaço de papel, amarelado e com os cantos recortados, onde letras manuscritas que traziam imagens de outro tempo, desenhavam uma única palavra:
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pedro
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a tinta, já meio comida, inspirava memórias do tempo em que vivam na terra os grandes heróis. o pequeno rapaz passava muitas vezes os dedos sobre as letras como se fossem mágicas. ainda era um menino e nem sequer sabia ler ou escrever, mas reconhecia naquela palavra os desenhos que davam corpo ao seu nome. depois, sem nunca a abrir, pegava na caixa que mal lhe cabia nas mãozinhas e, com todo o cuidado, levava-a para o seu esconderijo secreto.
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mesmo na sua pouca idade tinha a consciência que dentro daquela caixa repousavam os tesouros mais preciosos que um menino pode ter e guardar.
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raquel patriarca
doze.maio.doismilenove
Ai as minhas caixas!!! grandes, pequenas, com tampa, sem tampa, compradas, re-aproveitadas, lisas, estampadas, no chão, no armário, à vista, bem escondidinhas...
ResponderEliminarSe elas pudessem contar as suas histórias e as de cada objecto que abrigam...
:)