sexta-feira, 10 de julho de 2009

rita, encontrei os canhenhos!

nota preliminar:
dezasseis anos depois de acabarmos o liceu, encontrámo-nos as duas à beira mar. o que entretanto em nós mudou – os olhos desassossegados de progenitoras sempre atrás das crias que brincavam alegremente entre a borda da areia e os salpicos do mar; os quilos a mais mal disfarçados nos biquínis tamanho ‘slightly-extra-large’; as cicatrizes da alma; as quebras do coração… – nada pôde perante aquilo que em nós está igual – a cumplicidade e o carinho. partilhámos e compreendemos cada momento que passámos longe, num silêncio feliz por estarmos, agora, tão perto. já não sei a que propósito, acabámos a falar nos tempos em que todos nos dedicávamos a escrever poemas. é incrível a falta que às vezes sinto das coisas que escrevíamos, da maneira como víamos a vida e nos aceitávamos mutua e incondicionalmente como grandes poetas. encontrei os ‘canhenhos’ e, em honra desse último ano que passámos todos juntos, quero hoje publicar um poema de que gosto muito. este poema não é meu. meu é o chapéu...
.
aula de geografia


tanta gente à minha volta
e, no entanto,
sinto-me tão só…

três pessoas lá em baixo
e eu – daqui de cima –
vejo tão bem
as mentes tão distantes!

em que estarão a pensar?
acredito que não seja na “indústria”!
uns
pensam na prova de aferição
que não tarda em chegar;
outros
nos tormentos do coração.
as feridas que não querem sarar.

um chapéu sem topo numa mesa.
de certo
uma boa imagem para um poeta observador.


.
poema: cláudia veloso
junho.milnovecentosenoventaetrês
fotografia: raquel patriarca
dez.julho.doismilenove.

nota final:
queria dedicar o poema à rita, à cláudia, à vanessa, à iolanda, à xana, ao pedro, à cló, à sheila, ao hugo, ao tiago, ao marcos, ao nuno, à inês e a todos os outros que me devo estar a esquecer e que não faço ideia onde param… espero poder um dia encontrar-vos à beira mar.

1 comentário: