segunda-feira, 12 de outubro de 2009

doze.outubro.milnovecentosequarentaeseis


nos momentos em que a brisa me corre entre os cabelos
e o calor do sol me aquece a cara e a alma ou me sinto
em paz, alegre, forte e completa, capaz de conquistar o mundo,
sei que tudo nasceu em ti, foste tu que assim me escreveu.
a brisa e o sol e a alegria e a paz e a força e o mundo
são os tesouros e as canções em que tu me embalaste.

nos momentos em que o mar me sacode os ossos e o ânimo
e sou pequena demais, fraca, triste, absurdamente incapaz,
nada no facto de eu existir parece fazer sentido ou ter pertinência,
sei que estás comigo sempre, que me proteges sempre.
que me aceitas sempre. assim inútil e fraca e triste e incapaz
sem perguntas, sem cobranças, sem condições.

mas sabes que mais? não é por isso que te amo tanto.
o meu amor não começa e acaba no que tu és para mim,
antes vem de tudo aquilo que tu, simplesmente, és.
da forma serena, luminosa, segura e doce como és.
dos porquês que definem e explicam as razões do que és.

e no entanto não há, em todos os dicionários e enciclopédias,
verbos e adjectivos que bastem para explicar ou definir o ser que tu és.
e ainda que os houvesse tenho dúvidas que os pudesse usar porque
perante ti não existe vocabulário, gramática, semântica. só existes tu.
se eu conseguisse, nem que fosse durante um instante pequenino,
que te visses com os meus olhos e te entendesses com a minha mente,
saberias tudo. saberias da imensidão do que és e de como és e porque é que és.

sem palavras, sem escrever e sem falar, saberias tudo porque és tudo.
porque és tudo para mim. e eu amo, sem reserva, tudo o que tu és.
e, nesse indizível amor, cabem algumas coisas que tu não és, mas tens:
as rugas à volta da boca, a tolerância no olhar, os cabelos (quase todos) brancos,
as mãos nodosas com dedos mindinhos torcidos, a cicatriz larga e macia
que faz memória de ter sido o teu colo o meu primeiro contacto com a vida.

mãe,
amo-te. parabéns.


raquel patriarca
doze.outubro.doismilenove
fotografia de março de mil novecentos e setenta e oito

3 comentários:

  1. Tendo falado muitas vezes com ela de perto posso dizer que sim(da forma serena, luminosa, segura e doce como és.)é de todo verdade.

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