quinta-feira, 8 de outubro de 2009

outono

.
quando se reflectir
na minha pele
o meio acastanhado
gosto
das cores de fogo
que dançam
na montanha e no céu
pouco antes
do sol-posto

quando me entrar
na alma
a neblina suspensa
nas agulhas dos pinheiros
e me sentir
regressar
aos mundos
leves e brancos
que vivem
naqueles cheiros

quando procurar -
de olhos aflitos -
o horizonte familiar
povoado de urze e penedos
perdida agora
nas ruas de uma cidade
assaltada por
sombras e medos

quando ouvir -
em vozes de mágoa
e cadência sussurradas -
os credos
e as ave-marias
na ressonância húmida
que o vento
embala
desde o altar de granito
até às mais altas
serranias

quando
a terra e o mar
me fugirem
como se tudo voltasse
ao início
e eu tentar
ler nas estrelas
de outro tempo
o cantar da noite
no solstício

quando me entrar
nas veias
junto ao sangue
a água limpa
que corre e salta
em cascatas sinuosas
ou transforma
num imenso
glaciar de vácuo
as fragas as lagoas
e as minhas
decisões duvidosas

quando a solidão
e o silêncio
inundarem de realidade
uma vivência
ilusória
e eu ficar sem nada -
só dor e perda -
sem lembrança
nem memória

quando sentir
queimar
na geada da manhã
a giesta
o zimbro
o alecrim
e me deitar ferida
queimada também
para adormecer
dobrada sobre mim

quando as lágrimas
há muito
esquecidas
correrem - finalmente -
durante o sono
eu saberei
em todo o pequeno
ser que sou
que na minha serra
já chegou
o outono
raquel patriarca
oito.outubro.doismilenove

1 comentário:

  1. Raquel vim aqui espreitar os teus poemas e digo-te que gostei muito deste Outono que tão bem me soou.
    Parabéns e obrigado.

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