sexta-feira, 6 de março de 2015

cartas de viagem | copenhaga | dinamarca | 2

.
hans christian andersen em copenhaga - dinamarca


















Ontem vi onde moravas e onde se diz que escrevias, assim na mesma forma silenciosa e abandonada com que eu agora o faço. E era por ali que nasciam as personagens a que chamavas pequenas mas que não eram pequenas, eram grandes como o tempo. Ainda são. Penso se também tinhas dúvidas em tudo. Nas ideias, nas palavras, nas vírgulas. Se escrevias assim de jaqueta e chapéu, a bengala ao lado, ou se trabalhavas em ceroulas e pantufas, uma manta nos ombros e a humidade do Øresund a magoar nos ossos. Dizem por aqui aos turistas que, se escutarmos cuidadosamente, é possível distinguir o som da tua pena a riscar veios de tinta no papel e sentir o som da tua voz a contar os contos que te são imortais. A ti e a todas as crianças. Não ouvi nada mas tenho para mim que te ouço o escrever e o contar há já muitos anos, em lugares onde nunca estiveste e, ainda assim, existes em muitas formas. É estranha esta circunstância de conhecer-te bem sem que saibas quem sou, e contudo, é verdade que em viagem se fazem as amizades mais incongruentes.

in: diário de viagem: dinamarca | pp.
raquel patriarca | quinze.fevereiro.doismilequinze
fotografia | Pedro Ribeiro 

Sem comentários:

Enviar um comentário