hans christian andersen em copenhaga - dinamarca |
Ontem vi onde moravas e onde se diz que escrevias, assim na mesma forma
silenciosa e abandonada com que eu agora o faço. E era por ali que nasciam as
personagens a que chamavas pequenas mas que não eram pequenas, eram grandes
como o tempo. Ainda são. Penso se também tinhas dúvidas em tudo. Nas ideias,
nas palavras, nas vírgulas. Se escrevias assim de jaqueta e chapéu, a bengala
ao lado, ou se trabalhavas em ceroulas e pantufas, uma manta nos ombros e a
humidade do Øresund a magoar nos ossos. Dizem por aqui aos turistas que, se
escutarmos cuidadosamente, é possível distinguir o som da tua pena a riscar
veios de tinta no papel e sentir o som da tua voz a contar os contos que te são
imortais. A ti e a todas as crianças. Não ouvi nada mas tenho para mim que te
ouço o escrever e o contar há já muitos anos, em lugares onde nunca estiveste
e, ainda assim, existes em muitas formas. É estranha esta circunstância de
conhecer-te bem sem que saibas quem sou, e contudo, é verdade que em viagem se
fazem as amizades mais incongruentes.
in: diário de viagem: dinamarca | pp.
raquel patriarca | quinze.fevereiro.doismilequinze
fotografia | Pedro Ribeiro
raquel patriarca | quinze.fevereiro.doismilequinze
fotografia | Pedro Ribeiro
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