sexta-feira, 31 de outubro de 2008

photo grafia XI

"vénea"
parque biológico de gaia - avintes
m. artmaker
outubro.doismileoito
"o natural também é uma pose"
oscar wilde, 1854-1900

sexta-feira, 24 de outubro de 2008

carta de um pai a um filho

meu filho,
queria dizer-te hoje, por todas as vezes que não to disse e devia, que não existe medida para o amor que te tenho, ou para o sentimento de profunda realização que me enche a alma de cada vez que olho para ti. que não é possível definir em palavras o orgulho que tenho em cada um dos teus sorrisos, em cada uma das tuas palavras, em cada um dos teus gestos, na criança que foste e no homem em que te estás a transformar.
queria agradecer-te por seres o meu melhor amigo e por aceitares que eu seja o teu. por seres a materialização de todos os meus sonhos, tudo o que desejei e muito, muito mais. porque cada vez que me abraças fazes de mim um rei, cada vez que me chamas fazes de mim um herói. porque és o melhor que há em mim.
queria pedir-te perdão por todas aquelas vezes que não tive tempo ou paciência. por todos os momentos em que precisaste de mim e eu não estive presente. por não ter estado mais, rido mais, beijado mais, brincado mais…
queria dizer-te que todas as escolhas que fiz, mesmo as erradas e mesmo as que contrariaram a tua vontade, tinham o propósito de fazer de ti alguém melhor que eu. que vivo para te ver saudável e em paz, que nada no mundo é mais importante que tu, que o meu pesadelo é perder-te, magoar-te ou afastar-te de mim.
não tenho verdades universais ou conselhos sábios para te dar, mas se a minha vontade te pesa nas decisões, então sê feliz. a vida tem uma forma estranha de nos ensinar, e tudo o que precisas de saber aprenderás no momento em que conheceres o teu filho. deixarás de pertencer a ti próprio e saberás que o amor não conhece limites ou barreiras.
com todo o amor,
pai
b. b. booker
vinteetrês.outubro.doismileoito

sexta-feira, 17 de outubro de 2008

homens que são como lugares mal situados

alguém dizia,
de pé e mão na cinta,
uma poesia

"homens que são como lugares mal situados"

era muito bonita
falava de pessoas em desalinho
em 'desambiente'
sempre.
falava de mim.

e eu
encantada de me encontrar
não escutava (de verdade) a poesia
que, de pé e mão na cinta, se dizia

prendeu-se-me a alma
em abandono e desconcerto
logo no título
e aí encerrei eu o poema

naquele primeiro verso
simples
despido das demais explicações
em que a voz discorria,
de pé e mão na cinta,
no resto da poesia.
b. pecorabuona
dezassete.outubro.doismileoito

quarta-feira, 15 de outubro de 2008

photo grafia X

"quando vivia entre lombadas de pó"
livraira lello - rua das carmelitas nº 144 - porto
m. artmaker
outubro.doismileoito

sexta-feira, 10 de outubro de 2008

acerca do mar: diálogo entre luís miguel nava e cesare pavese

o mar é profundamente azul e profundamente poético. o azeite não é naturalmente poético mas pode ser, pelo menos, estético. na sua capacidade de criação, na alquimia mágica da transformação de bagas em tempero, na arte ancestral que se faz com carinho e esmero. e se o azeite não é o alvo preferencial do lírico rabisco, devemos lembrar que é, ainda assim, um petisco. as sensações que inspira de gula, de prazer, de acabamento perfeito, invocam as pequenas subtilezas de que o ser humano é feito. o mar de cesare pavese é terreno, concreto, identificável, real… é um mar observado sob uma visão diagonal, mas é fruto tanto da natureza como do engenho humano, e tudo isto encerrado na imagem do oceano. o mar de luís miguel nava, pelo contrário, é um mar não terreal… é irreal e imaginário; é de outra esfera, de outro enquadramento, é – por assim dizer – visto com outros olhos, com outro sentimento. é insondável, intangível. mais profundo, mais azul talvez. faz ponte entre o céu e a terra e de volta ao céu outra vez. é absoluto e brutal. não tem uma gota de humano, é sobrenatural. é o abismo para onde olhamos um dia. é o sublime que nos transforma em ninharia. perante ele nada se pode, a terra treme e o céu explode. no seu lugar um relâmpago… não um sorriso, ou um beijo, ou mesmo um poema. nada que venha do homem, nenhuma teoria, nenhum teorema. de alquimista e artesão a insignificante poeira do chão. esta foi a viagem que aqui fez o homem, com as dúvidas, os desejos e as paixões que o consomem. esta foi a relação que eu consegui encontrar, em dois pequenos poemas que afinal não falam do mar.
b. b. booker
dez.outubro.doismileoito

o mar que é abismo

o mar,
no seu lugar, pôr um relâmpago.
luís miguel nava, 1957-1995

o mar que parece azeite

a poesia começa quando um idiota diz, a respeito do mar:
"parece azeite."
cesare pavese, 1908-1950

quinta-feira, 9 de outubro de 2008

photo grafia IX

"ruinas de fé"
mosteiro de santa maria de junias - serra do gerês
m. artmaker
setembro.doismileoito
"no fundo, sinto que a minha vida é sempre governada por uma fé que já não tenho."
ernest renan, 1823-1892

quarta-feira, 8 de outubro de 2008

segundo soneto

2.

hoje o outono entrou-me pela alma.
sentia um vazio que'ele encontrou,
com vagar, encolheu-se e ali ficou
abandonando-se'em silêncio e calma.

sei agora que não volta a sair…
encheu o vazio e'o resto também.
eu sou sua, mas ele, de ninguém
o outono que em mim se veio fundir.

encheu-me'o corpo de cinza, de frio,
de falta, de dúvida, de desejo…
melhor assim que sentir o vazio,

eu queria mais... um sorriso, um beijo
e'ao querer, mais fundo em mim o envio
este amigo que está onde o não vejo.

b. pecorabuona
sete.outubro.doismileoito

terça-feira, 7 de outubro de 2008

cedo

cheguei cedo. acontece com muita frequência, e depois fico assim, sem propósito e sem sentido, à mercê da passagem ansiosa do tempo. o coração bate mais acelerado que o relógio, as mãos inquietas e incómodas, inúteis em remate de braços vazios. os olhos saltam-me de um ponto para outro, sem fuga e sem objecto. daqui a nada vens e o dia começa. o momento ganha sentido e função. vamos fazer qualquer coisa juntos, ou não fazer nada juntos. eu ganho significado porque estou contigo. entretanto, nada se passa e eu estou aqui, sem préstimo, sem contexto. incompleta e imaterial. cheguei cedo e espero por ti.
r. bewusstsein
setembro de 2008

quarta-feira, 1 de outubro de 2008

traduções na brincadeira II



o original:
"you are my sister"

you are my sister, we were born
so innocent, so full of need
there were times we were friends but times I was so cruel
each night I'd ask for you to watch me as I sleep
I was so afraid of the night
you seemed to move through the places that I feared
you lived inside my world so softly
protected only by the kindness of your nature
you are my sister

and I love you
may all of your dreams come true
we felt so differently then

so similar over the years
the way we laugh the way we experience pain
so many memories
but there's nothing left to gain from remembering
faces and worlds that no one else will ever know
you are my sister

and I love you
may all of your dreams come true
I want this for you they're gonna come true
antony and the johnsons


a tradução:
"és a minha mana"

és minha mana, duas sementes, tão ingénuas e carentes.
sempre amigas mas às vezes eu fugia,
e de noite tu velavas e eu dormia.
eu tinha tanto medo do escuro,
mas tu protegias-me como um muro,
e habitavas o meu mundo com a tua suavidade,
escudada apenas pela graça e a bondade.
és a minha mana e eu amo-te imenso,
a tua felicidade é tudo o que sinto e penso.
em tempos, diferentes como o sol e a lua,
hoje a imagem que me olha no espelho é a tua.
o que nos fazia rir e o que nos fazia chorar…
tantas recordações, que não vale a pena lembrar,
rostos e mundos onde mais ninguém pode entrar.
és a minha mana e eu amo-te de verdade,
e desejo que os teus sonhos se tornem realidade.

w. eartaker
outubro de 2008