sexta-feira, 10 de outubro de 2008

acerca do mar: diálogo entre luís miguel nava e cesare pavese

o mar é profundamente azul e profundamente poético. o azeite não é naturalmente poético mas pode ser, pelo menos, estético. na sua capacidade de criação, na alquimia mágica da transformação de bagas em tempero, na arte ancestral que se faz com carinho e esmero. e se o azeite não é o alvo preferencial do lírico rabisco, devemos lembrar que é, ainda assim, um petisco. as sensações que inspira de gula, de prazer, de acabamento perfeito, invocam as pequenas subtilezas de que o ser humano é feito. o mar de cesare pavese é terreno, concreto, identificável, real… é um mar observado sob uma visão diagonal, mas é fruto tanto da natureza como do engenho humano, e tudo isto encerrado na imagem do oceano. o mar de luís miguel nava, pelo contrário, é um mar não terreal… é irreal e imaginário; é de outra esfera, de outro enquadramento, é – por assim dizer – visto com outros olhos, com outro sentimento. é insondável, intangível. mais profundo, mais azul talvez. faz ponte entre o céu e a terra e de volta ao céu outra vez. é absoluto e brutal. não tem uma gota de humano, é sobrenatural. é o abismo para onde olhamos um dia. é o sublime que nos transforma em ninharia. perante ele nada se pode, a terra treme e o céu explode. no seu lugar um relâmpago… não um sorriso, ou um beijo, ou mesmo um poema. nada que venha do homem, nenhuma teoria, nenhum teorema. de alquimista e artesão a insignificante poeira do chão. esta foi a viagem que aqui fez o homem, com as dúvidas, os desejos e as paixões que o consomem. esta foi a relação que eu consegui encontrar, em dois pequenos poemas que afinal não falam do mar.
b. b. booker
dez.outubro.doismileoito

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