terça-feira, 22 de dezembro de 2009

fotocionário I: irmã

 
irmã: s. f. - criatura estranha, difícil de perceber e quase nunca domesticável, que aliena afectos, invade espaços e arrebanha pertences, sem a qual deixamos quase sempre de fazer sentido e perdemos a única testemunha credível da nossa própria vida. em casos excepcionalmente raros pode levar-nos a passear de reboque no triciclo... que é muito muito muito bom.
.
parabéns lálá
.
raquel patriarca
onze.dezembro.doismilenove

sexta-feira, 11 de dezembro de 2009

breve apontamento no diário da minha ausência

.
só para dizer que, embora não pareça, eu estou aqui. eu estou sempre aqui. e estou tão aqui que, não fora a pertinácia daquele que tem nome de arcanjo, eu já me tinha finado de escorbuto com os cotos roidos entalados no teclado e os miolos em papas a tentar perceber quantos títulos usava afinal d. manuel primeiro.
bem... até breve, sim?
.
.

raquel patriarca
quediaéhoje?outubro.doismilenove
.

terça-feira, 17 de novembro de 2009

fragmentoisas IV

.

.
 "a memória do mar"
colagens com papéis, desenhos e coisas...
raquel patriarca
doze.novembro.doismilenove
.

sexta-feira, 30 de outubro de 2009

pérola de sabedoria dita por quem sabe muito mais que eu ou uma notícia de última hora

.
"o livro morreu... viva o livro!"
.
j.e.l.
umdia.março.doismilecinco

...
.
e eu, que era jovem inocente, teimosa e ignorante, ouvi e respeitei e calei... mas sem compreender ou aceitar. hoje sou, pela força das circunstâncias, muito menos inocente, ainda meia teimosa e, porventura, igualmente ignorante, não só ouço como vejo, compreendo e posso até concordar com o sentido e razão da mensagem... aceitar, é que nunca!
.
raquel patriarca
trinta.outubro.doismilenove
(data da reencarnação do livro)
.

photo grafia XXXIII

"livro - conjunto de cadernos, manuscritos ou impressos, cozidos ordenadamente e formando um bloco. transcrição do pensamento por meio de uma técnica de escrita..."
exposição de fotografias de paulo gaspar ferreira - anima vegetalis: imaginário botânico do mosteiro de tibães


texto: padre theodoro de almeida, 1722-1804 - [excerto de] recreação filosofica ou dialogo sobre a filosofia natural, para instrucção de pessoas curiosas, que não frequentárão as aulas. 5ª ed. lisboa: régia officina typografica no anno m.dcc.lxxxvi
fotografia: raquel patriarca
vinteequatro.outubro.doismilenove

quarta-feira, 28 de outubro de 2009

compromisso escrito de entrega incondicional ou pensamentos convictos ausentes de inconstância:


quero escrever-te
o encanto e magia
(excepcionais)
de descobrir em ti
o que conheço tão bem
e que afinal
é um mundo mais.

um dia –
há muito tempo –
disse-te que escrevesses
o que sentias
o que pensavas
e às vezes
(muito baixinho)
me dizias

tu escreveste

escreveste
as folhas secas
do outono
escreveste
as conchas brancas
do mar

escreveste
nas cores do mundo
que era o teu

e o que escrevias
era para mim

era eu

ainda tenho
como tesouros
as folhas secas do outono
as conchas brancas do mar

em palavras e memórias
que me deste a guardar

hoje quero ser eu
a escrever
por ti
para ti
escrever-te a ti

ser testemunha
sem julgamento
beiral, caminho, espelho
o que precises
em cada momento .
a irmandade cúmplice
de silêncio triste
ou sorriso aberto

mas sempre sempre
comigo por perto

raquel patriarca
onze.junho.doismilenove

terça-feira, 27 de outubro de 2009

retrato do que vejo

descobri no outro dia, assim por acaso e como quem não quer a coisa, uma loja de tarequitos e traquitanas, cheia de cor, doçura e um sem número de pequenas maravilhas criadas com carinho, bom gosto e boa disposição entre os dedos de muitos artistas. as roupas são bonitas e diferentes, as carteiras lindíssimas, os alfinetes uma perfeição, os marcadores de livros únicos e baratos, os sorrisos abertos e generosos, a simpatia imensa e gratuita. e como se tudo isto não bastasse, ouve-se por lá boa música e o ar cheira a rebuçado!
<>

quem, como eu, já se vai fartando da parelha ‘shopping & franchising’ mas gosta de dar prendas lindas no natal, é bem vindo ao número quatrocentos e quinze da rua do almada, do lado esquerdo de quem sobe, mais ou menos a meio caminho entre a praça filipa de lencastre e a praça da república. é muito muito fácil: vai uma pessoa por ali acima toda contente a assobiar quando, de repente, espreita por uma janela e se vê mesmo em frente a uma casa de fadas... é aí! as duas lindas fadas que lá vivem - e que tanto podem ser encontradas lá dentro muito atarefadas a bordar e a pintar, como sentadinhas na soleira da porta ao lado a apanhar solzinho nas pernocas e nas asinhas - respondem pelos nomes que lhes emprestou a primavera...
joana e margarida
-
"retrato do que vejo"
uma casa de fadas - rua do almada, 415 - porto
raquel patriarca
vinteesete.outubro.doismilenove

quarta-feira, 14 de outubro de 2009

improvável reflexão a meio da semana

hoje estive, durante uns dez minutos bem contados, a ver o meu gato a dar cambalhotas e reboletas enquanto tentava apanhar a própria cauda. foi então que percebi porque razão o ser humano assume o papel ‘dominante’ no mundo. ao que parece as restantes espécies estão demasiado ocupadas na actividade de ser feliz.
raquel patriarca
catorze.outubro.doismilenove

segunda-feira, 12 de outubro de 2009

doze.outubro.milnovecentosequarentaeseis


nos momentos em que a brisa me corre entre os cabelos
e o calor do sol me aquece a cara e a alma ou me sinto
em paz, alegre, forte e completa, capaz de conquistar o mundo,
sei que tudo nasceu em ti, foste tu que assim me escreveu.
a brisa e o sol e a alegria e a paz e a força e o mundo
são os tesouros e as canções em que tu me embalaste.

nos momentos em que o mar me sacode os ossos e o ânimo
e sou pequena demais, fraca, triste, absurdamente incapaz,
nada no facto de eu existir parece fazer sentido ou ter pertinência,
sei que estás comigo sempre, que me proteges sempre.
que me aceitas sempre. assim inútil e fraca e triste e incapaz
sem perguntas, sem cobranças, sem condições.

mas sabes que mais? não é por isso que te amo tanto.
o meu amor não começa e acaba no que tu és para mim,
antes vem de tudo aquilo que tu, simplesmente, és.
da forma serena, luminosa, segura e doce como és.
dos porquês que definem e explicam as razões do que és.

e no entanto não há, em todos os dicionários e enciclopédias,
verbos e adjectivos que bastem para explicar ou definir o ser que tu és.
e ainda que os houvesse tenho dúvidas que os pudesse usar porque
perante ti não existe vocabulário, gramática, semântica. só existes tu.
se eu conseguisse, nem que fosse durante um instante pequenino,
que te visses com os meus olhos e te entendesses com a minha mente,
saberias tudo. saberias da imensidão do que és e de como és e porque é que és.

sem palavras, sem escrever e sem falar, saberias tudo porque és tudo.
porque és tudo para mim. e eu amo, sem reserva, tudo o que tu és.
e, nesse indizível amor, cabem algumas coisas que tu não és, mas tens:
as rugas à volta da boca, a tolerância no olhar, os cabelos (quase todos) brancos,
as mãos nodosas com dedos mindinhos torcidos, a cicatriz larga e macia
que faz memória de ter sido o teu colo o meu primeiro contacto com a vida.

mãe,
amo-te. parabéns.


raquel patriarca
doze.outubro.doismilenove
fotografia de março de mil novecentos e setenta e oito

sexta-feira, 9 de outubro de 2009

fragmentoisas III

.
.
 "o meu caderno"
serve para guardar ideias, palavras, flores, papéis, memórias, bilhetes de museus, marcadores de livros, selos, ilustrações, crónicas de jornais, mapas, fotografias, anotações e restantes miudezas de que se compõe a vida...
.
raquel patriarca
nove.outubro.doismilenove

quinta-feira, 8 de outubro de 2009

outono

.
quando se reflectir
na minha pele
o meio acastanhado
gosto
das cores de fogo
que dançam
na montanha e no céu
pouco antes
do sol-posto

quando me entrar
na alma
a neblina suspensa
nas agulhas dos pinheiros
e me sentir
regressar
aos mundos
leves e brancos
que vivem
naqueles cheiros

quando procurar -
de olhos aflitos -
o horizonte familiar
povoado de urze e penedos
perdida agora
nas ruas de uma cidade
assaltada por
sombras e medos

quando ouvir -
em vozes de mágoa
e cadência sussurradas -
os credos
e as ave-marias
na ressonância húmida
que o vento
embala
desde o altar de granito
até às mais altas
serranias

quando
a terra e o mar
me fugirem
como se tudo voltasse
ao início
e eu tentar
ler nas estrelas
de outro tempo
o cantar da noite
no solstício

quando me entrar
nas veias
junto ao sangue
a água limpa
que corre e salta
em cascatas sinuosas
ou transforma
num imenso
glaciar de vácuo
as fragas as lagoas
e as minhas
decisões duvidosas

quando a solidão
e o silêncio
inundarem de realidade
uma vivência
ilusória
e eu ficar sem nada -
só dor e perda -
sem lembrança
nem memória

quando sentir
queimar
na geada da manhã
a giesta
o zimbro
o alecrim
e me deitar ferida
queimada também
para adormecer
dobrada sobre mim

quando as lágrimas
há muito
esquecidas
correrem - finalmente -
durante o sono
eu saberei
em todo o pequeno
ser que sou
que na minha serra
já chegou
o outono
raquel patriarca
oito.outubro.doismilenove

terça-feira, 6 de outubro de 2009

terça-feira, 29 de setembro de 2009

mar

"quarto com vista para o mar"
platja d'aro - costa brava - catalunha - espanha

mar com vista para o sonho
mar com vista para o sonho zomm in

mar com vista para o sonho zoom in some more

fotografia: raquel patriarca
vinteetrês.setembro.doismilenove
.
.

mar

.
há um lugar secreto
e encantado,
de onde vêm as
sereias,
com castelos
de rocha e coral
e cavalos marinhos
que patrulham as ameias.
.
e as estrelas,
(que nascem das areias)
não brilham,
dançam!
são pingos de cor
nas profundezas,
enroladas em abraços
de anémonas
como as flores do campo
em cabelos de princesas.
.
as baleias
falam da origem de tudo
contos que ecoam –
muito longe
e muito fundo,
como canções de embalar –
em cada onda,
em cada grão de areia,
em cada concha
do mar.
.
é um mundo
imenso. imenso.
azul e fantástico,
cheio de criaturas
estranhas, ferozes, bonitas
tubarões, raias,
caranguejos eremitas.
.
vive por lá uma linha,
branca e suave,
em que o céu toca no mar,
onde o vento é eterno
e até os sonhos vêm sonhar,
como o voo lento
de uma pequena ave
no colo doce da maré,
que sempre, sempre
continua,
e sorri –
de vez em quando –
ao reflexo claro
da lua.
.raquel patriarca
vinteenove.setembro.doismilenove

sexta-feira, 4 de setembro de 2009

photo grafia XXXII

"outra janela"
sala grande com janela enorme - sem ser a do capítulo - convento de cristo - tomar
raquel patriarca
vinteenove.maio.doismileoito

quarta-feira, 26 de agosto de 2009

miolo de pão

.
lembro-me às vezes
– sem quando nem porquê –
do sabor que tinha
o miolo do pão do dia anterior.
mas não sei se era
o pão ou o dia
que tinha
aquele sabor.

e nós as duas
sentadas,
na mesa da cozinha
à janela
de pernas cruzadas,
de pijama e pantufas
remelas nos olhos
cabeças despenteadas.

jogávamos a adivinhar
a cor dos carros
que haviam de passar.
um carro branco, um carro azul
e outro vermelho
– amassado e sem pára-choques –
muito velho,
e uma carrinha preta
logo a seguir.
afinal era uma lambreta
com imensa tralha mal atada atrás
quase quase a cair.
ah pois!
de vez em quando,
uma carroça de bois.

tu acertavas tudo
e eu…
quase nada.
pergunto-me hoje
se fazias tu batota
ou estava eu muito ensonada.
não importa, pois não?
se ainda trago comigo
o sabor do miolo de pão.

eram o mundo inteiro:
uma mesa e uma janela.
e eu acreditava na magia
que passava na estrada,
disfarçada de furgoneta amarela.

lembro-me às vezes
– sem quando nem porquê –
do sabor dessas manhãs,
em que não éramos
ainda nada
nem ninguém.
apenas irmãs.


à minha irmã
raquel patriarca
vinteeseis.agosto.doismilenove

terça-feira, 25 de agosto de 2009

domingo, 23 de agosto de 2009

photo grafia XXX

"travessia"
atlantic ferries - rio sado - entre troia e setúbal

raquel patriarca
vinteetrês.agosto.doismilenove

quarta-feira, 12 de agosto de 2009

sentimento do mundo

.
hoje esteve muito calor. muito mais do que é normal. no fim do dia – quando estava mais fresco – reguei o jardim. reguei-o com carinho e consciência de que aquele era um acto de respeito e comunhão com a natureza. apanhei as ervas daninhas e deitei-as fora. varri o pátio e conversei com o vaso da malva que me parecia desanimada.
e senti que o mundo era bom.

hoje reguei o jardim e – enquanto imaginava sorrisos de agradecimento da relva, das roseiras, das magnólias e da salsa – enrolei a mangueira. enrolei a mangueira que parecia nunca mais acabar e que deve ser enrolada direitinha para depois ser pendurada. enrolei a mangueira, comprida e pesada, com os braços no ar deixando escorrer a água que ainda lá corria dentro. pendurei-a no lugar certo na parede ao fundo da garagem.
e senti que o mundo era bom.

hoje vim para dentro bem disposta, invadida de um sentimento de missão e entrega. visitei a despensa e o frigorífico, amontoei na banca ingredientes ao calha, vesti o avental e comecei a fazer o jantar. passado pouco tempo a cozinha começou cheirar bem e os rapazes estavam por perto e com fome.
e senti que o mundo era bom.

hoje andava por casa como uma rainha num castelo. cantarolava entre um tempero no tacho e uma arrumadela nos brinquedos. estendi a toalha na mesa, espalhei pratos, copos, talheres e guardanapos. chamei os rapazes e jantámos.
e senti que o mundo era bom.

hoje, ao sair da cozinha, tropecei numa coisa. sem saber bem porquê passou-me pelos olhos uma imagem do monte everest em várias modalidades de cores e texturas. hoje, ao sair da cozinha, tropecei numa cesta de roupa para passar a ferro. fiquei ali parada por uns momentos. fiquei sem saber o que fazer.
e senti que o mundo era uma trampa.
.
raquel patriarca
onze.agosto.doismilenove

viagem medieval em terra de santa maria








"viagem medieval"
santa maria da feira - de trinta de julho a nove de agosto

fotografias:
raquel patriarca
oito.agosto.doismilenove