domingo, 21 de março de 2010

um poema épico para um herói


era uma vez
um menino chamado afonso
que foi o mais bravo guerreiro
de todos os contos e histórias de encantar,
um herói tão especial
que lhe escreveram poemas épicos
daqueles que se cantam nas noites de luar;
inspirou as verdadeiras lendas
e ergueram-lhe estátuas de bronze
onde as donzelas e princesas
vinham deixar flores e outras prendas.
.
o seu nome ganhou um significado novo:
afonso passou a querer dizer
aquele que está pronto para combater
e todos, fidalgos cavaleiros ou homens do povo,
que o viram ou conheceram a sua história
testemunharam a sua coragem
e guardaram-na, como a um tesouro,
nos cantinhos luminosos da alma
e nos corredores empoeirados da memória.
.
ainda hoje, acreditem em mim,
afonso é um nome sonante
de homem sábio, forte e importante
(tivemos muitos reis a quem chamaram assim).
tudo porque um menino com olhos de mel
combateu dragões, gigantes e moinhos
e até inimigos que nunca viu,
armado apenas com esperanças e carinhos
e montado no cavalo colorido de um carrossel.
.
– – – –
.
era uma vez
um menino chamado afonso
que tinha olhos profundos e doces,
com a vida para viver
e gargalhadas para dobrar.
queria ir à escola
e jogar à bola
e brincar.
.
era uma vez um menino
que em vez de ser só um menino
escolheu, muito cedo,
ser um exemplo a seguir:
porque ser um herói,
é ter medo
e sorrir.
.
dedicado ao afonso, no dia mundial da poesia. com carinho e um respeito infinito.
..
raquel patriarca
vinteeum.março.doismiledez
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. 
o afonso é um menino de seis anos. 
está a lutar pela vida contra e uma leucemia rara e muito agressiva.
precisa da nossa ajuda.

eu já estou registada como dadora de medula óssea.
vem juntar-te a este 'exército'.

o alistamento faz-se num dos centros de recruta e basta prestar voto de fidelidade e fazer um juramento de sangue, o que implica assinar um papel e fazer uma - muito pequena - recolha de sangue para análise.

e depois é possível que salvemos a vida a uma criança...

para mais lendas e poemas sobre o afonso, clicar aqui.

sexta-feira, 19 de março de 2010

pai ou fotocionário III ou escrever no dia do pai


pai: s. m. – do latim patre, também chamado de progenitor , genitor ou gerador. é a figura masculina de uma família que tenha um ou mais filhos e assume o primeiro grau de uma linha ascendente de parentesco. pessoa dita adulta altamente relevante na vida das crias, cujas principais funções assumem âmbitos diversos e tarefas de incalculável importância como montar legos, receber abraços à chegada a casa, afugentar pesadelos à noite, ensinar a subir às árvores e a andar de bicicleta, ajudar a esconder segredos da mãe, fazer cócegas e lutar com almofadas, sorrir todas as manhãs, castigar as asneiras e perdoar asneiras. cabe-lhe ainda, por imperativo genético, a guarda da confiança absoluta, o ministério da validação suprema e o exercício do orgulho baboso em todos os momentos do percurso existencial dos filhos e filhas. aquele que, no fim do seu percurso, possa atingir o patamar onde os filhos – voluntariamente – entreguem à sua guarda a confiança absoluta, aceitem e procurem a sua validação como a de uma instância suprema e exercitem eles próprios o orgulho baboso pela pessoa do seu pai, será elevado à categoria de um deus.

dedicado ao raúl antes de mais, ao miguel logo depois, ao joaquim a seguir...
e também à odete, à juli e à ritinha

raquel patriarca
dezanove.março.doismiledez

perguntas incisivas sobre a origem da vida

– ó mãe – disse ele, a voz cheia de angústia e a boca cheia de sangue – porque é que temos que mudar de dentes? eu não me sinto preparado para isto…
limpei-lhe as lágrimas dos olhos e o sangue dos lábios. – não chores, querido. tudo isto é normal. – a voz doce e a conversa tranquila chegavam-me de longe, numa espécie de ligação sem fios ao poder mágico que têm as mães de fazer passar dores e tristezas. – estás a crescer e vão nascer dentitos novos…
.
.– eu já sei essas coisas todas e não é disso que eu estou a falar. – o olhar dele mudou de um desamparo suplicante para uma determinação exigente. a condescendência e a presunção morreram-me nos lábios enquanto me senti a corar. por momentos acreditei que me fosse mandar à fava mas ele continuou.
– quem é que nos deu a vida e quem é que fez o mundo? – interrompeu-se-me a magia num instante. pareceu que me ficava o discurso a arranhar a garganta e a saber ao que saberia a estática, se a estática fosse um sabor em vez de ser um som ou uma corrente eléctrica sem definição ou substância. – as árvores e o mar e as coisas, – as palavras saiam-lhe em atropelos indignados – porque é que quem fez tantas coisas nos fez de maneira a termos de mudar de dentes? – rebolou-lhe outra lágrima gorda que eu segui até lhe pingar do queixo. – isto dói, mamã!
.

na palma da mão aberta estava um incisivo do tamanho de uma pedrinha de sal. assim estendido como um inacreditável destroço de vida, a prova acabada da falta de sentido e coerência nas coisas do mundo, a consciência clara da miserável pequenez que marca a condição humana.
abracei-o muito e não fui capaz de lhe dizer mais nada. pensei só que, se calhar, não me sinto preparada para isto…
raquel patriarca
dezanove.março.doismiledez

quarta-feira, 17 de março de 2010

trinta e seis


eu hoje faço anos.
eu gosto de fazer anos.

tenho beijos, bolo de chocolate e carinho
em quantidades absurdas
(esdrúxulas mesmo)
e não há nada melhor

não me importa nada que esteja a envelhecer
até porque me parece pouco sensato –
senão for mesmo uma idiotice –
recear que venha o passar dos anos
provocar na minha pessoa
os ‘danos irreparáveis’ da velhice,
quando eu já nasci
com as sobrancelhas tortas, os joanetes e o mau feitio que hoje tenho
ah pois.
só as unhas roídas é que vieram depois
(mais ou menos na mesma altura em que vieram os dentes…)


é natural que o tempo me vá passando por cima
mas –
– em contrapartida
eu também passo por cima dele;
a correr, aos saltos e a fazer o pino
de mangas arregaçadas,
as mãos à cinta
e o nariz empinado ao destino.


é isto:
mais um ano
as mesmas rugas de ontem
(todas de riso)
e a mesma falta de juízo.
raquel patriarca
dezassete.março.doismiledez

quarta-feira, 10 de março de 2010

viena em março dois

de dentro do taxi
egon schiele no leopold museum
sacher
fachada de museu grátis no dia da mulher
klimt no leopold museum
belvedere museum
rapariga com pente
frio, neve e carros pequeninos
"cada nota e cada cor - dois"
viagem de inverno - viena - áustria



fotografia: raquel patriarca
dez.março.doismiledez

viena em março um

banco na neve
a pensar na velhice
jardins do palácio de belvedere
kafka café, sem baratas
museus, museus, museus
e parques, muitos parques
a primeira refeição foi de salsichas
montras na noite

"cada nota e cada cor - um"
viagem de inverno - viena - áustria
fotografia: raquel patriarca
dez.março.doismiledez

quarta-feira, 3 de março de 2010

correntes d' escritas onze

entre vinte e quatro e vinte e sete de fevereiro estive nas correntes d' escritas. foi a terceira vez que assisti às conversas e actividades mas foi a primeira vez que levei a máquina fotográfica... e posso partilhar

o auditório
  
as gaivotas a voar

o tiago, o manuel rui, a rosa, o josé carlos, a maria teresa e o pedro

 
a feira

o mineiro das palavras

as redes

o mar

a feira outra vez

 o carlos e a inês


o bernardo, o isaac, o carlos, a tânia, o joão e o germano... escritores

o manuel, o francisco, o antónio, o jaime e os outros pescadores

 
a ternura do valter

 
a serenidade da maria da graça

o bom humor do onésimo

a simpatia do mário

a caravela quinhentista

os pormenores

o pessimismo esperançado do jorge, a presença de espírito da imma e o sorriso do francisco

e porque também sou o que leio, para o ano vou voltar...
se correr tudo bem, porque nenhum dos fotografados me deu licença para aqui os colocar…

raquel patriarca
três.março.doismiledez