sexta-feira, 26 de novembro de 2010

billy & simba

"billy & simba"
em frente à secretária do escritório - porto
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r.p.
dezoito.fevereiro.doismiledez

os dias maus

há alturas na vida em que os dias maus parecem não ter fim. como se o destino não tivesse mais o que fazer do que vir, sádica e criativamente, infernizar-nos a existência. cada dia que passa, e que é mau e se vai encostar aos outros dias maus, pesa mais e entorpece mais. depois somos invadidos por uma tristeza míope que desfoca tudo em fumos de desencanto. pesam as coisas que nos acontecem só a nós, as angústias e as contrariedades que são secretas de cada um, e pesam as coisas que nos vão acontecendo a todos, em conjunto, que o destino é velhaco mas é democrático.
costumamos orgulhar-nos de ser optimistas e persistentes. escondemos com o mínimo de pudor os medos que nos perseguem e as dúvidas que minam as decisões que tomamos. tentamos ser fiéis àquilo em que acreditamos e consequentes com as crenças que defendemos. sabemos que muitas vezes a verticalidade desempenada de portugueses resolutos que ostentamos ao sair de casa pela manhã vem mais da teimosia que da convicção, mas ainda assim continuamos a querer sonhar e a não querer desistir.
alguém decidiu aumentar os preços a tudo o que nos é preciso e resmungamos e resmungamos e resmungamos e depois vamos pagá-las porque que remédio… e depois começamos a poupar no parcómetro e o carro é rebocado, e tudo nas vésperas de se ter avariado o cilindro e termos ficado sem água quente. abre-se o jornal e ficamos a saber que o ministério das finanças nos convida a estar atentos aos sinais exteriores de riqueza dos nossos concidadãos para que, conscienciosamente, os possamos denunciar naquilo que nos pareça excessivo. e temos vergonha de estarmos a desivoluir e de nos quererem usar assim, como quem explora o que há de pior na humanidade.
mas somos rijos e pensamos que tudo bem, somos saudáveis e temos um tecto e roupa e comida e família. e dedicamos um serão a pendurar luzinhas na árvore de natal e a absorver o máximo da ternura das crianças, a ver se nos serve de combustível até ao fim da semana. depois afinal é preciso fazer exames e até estamos a ver cada vez pior. no entretanto alguém vem dizer-nos, solene e sentadamente, que está doente a valer e o mundo parece que nos foge e leva o chão e tudo. e andamos mais devagar como quem tem de se proteger contra a deslocação do ar, e há aquele filho da mãe que nos vem espetar qualquer coisa nas costas e, só porque pode, dedica-se a inventar obstáculos com que vai decorando o caminho à nossa frente: umas paredes aqui, umas cascas de banana acolá… mas cerramos os dentes e não batemos a ninguém que somos gente civilizada e o mal fica com quem o faz. lá vamos espremendo as expectativas de que tudo há-de correr pelo melhor. mimam-se os doentes, fazem-se os exames, marcam-se as consultas, gastam-se no cilindro novo os trocos das propinas do semestre seguinte e depois logo se vê.
e tudo recomeça, todos os dias, na esperança que hoje seja um dia bom. e depois… depois encolhemo-nos do mundo ao fim de uma dúzia de horas sem eventos, para ouvir nas notícias que políticos de todos os partidos parlamentares escreveram textos inéditos dirigidos às crianças reunidos num livro intitulado “contos pouco políticos”. e é aqui que sentimos partir-se qualquer coisa cá dentro. sentimos que não temos animo para mais nada. mais nada que não seja berrar palavrões.

r.p.
vinteeseis.novembro.doismiledez


terça-feira, 9 de novembro de 2010

photo grafia XLIV

"trabalhar com luz natural"
a minha rua vista da janela do escritório - porto
r.p.
nove.novembro.doismiledez

entretanto o vento

durante qualquer coisa que possa ser tomada como
medida de tempo – uma vida, um soluço, tanto faz –
abandonei-me das dúvidas e acreditei
nos milagres, nas mentiras, na possibilidade de
todos os impossíveis e todos os infinitos.
acreditei por vontade de esperança.
para fugir de cinismos  e tédios e mesmices. acreditei por desespero e
sofro as dores de sentir moribundas
as expectativas. sangra-me a vontade
e, em breve, a lividez inerte limpará os vestígios
de quaisquer boas vontades. pensadas ou cometidas
serei incólume. entregue a nada. crente em  nada. pela rendição
aos absurdos, parte integrante do indiferente. em
repouso e à espera, sem tecto e sem relento que,
entretanto, o vento

r.p.
nove.novembro.doismiledez

quinta-feira, 4 de novembro de 2010

três de novembro


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era uma vez
um menino chamado afonso
que foi o mais bravo guerreiro
de todos os contos e histórias de encantar,
um herói tão especial
que lhe escreveram poemas épicos
daqueles que se cantam nas noites de luar;
inspirou as verdadeiras lendas
e ergueram-lhe estátuas de bronze
onde as donzelas e princesas
vinham deixar flores e outras prendas.


não me parece que na vida o importante seja o tanto que conseguimos reunir ou o tempo que levamos a consegui-lo. julgo que é mais importante a diferença que fazemos na vida dos outros. talvez seja essa a única forma de sermos eternos.
r.p.
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