sexta-feira, 29 de agosto de 2008

photo grafia VI

"fuga para o passado"
casa da cabeça do preto - penhas douradas - serra da estrela

m. artmaker
junho de 2008

quinta-feira, 28 de agosto de 2008

chuva

hoje de manhãzinha caiu uma chuva estranha. durou dois minutos. gotas fortes, grossas, barulhentas e rápidas a chegar ao chão, como se soubessem que eu ia por ali, entre o carro e a porta, durante os mesmos dois minutos. depois, desapareceu de repente. o testemunho que dela ficou deixei-o eu na portaria e no elevador.

pensei em ti.
será que o céu também chora?
b. b. booker
agosto.2008

quarta-feira, 27 de agosto de 2008

segunda-feira, 25 de agosto de 2008

carta a uma amiga

se soubesse o que te dizer, dir-te-ia tudo o que sinto e quanto significas para mim. dir-te-ia da necessidade que tenho de estar contigo, de sentir o teu calor e o teu sorriso, de te estreitar nos meus braços. de como todos os dias leio e releio as coisas que escreveste, de como olho vezes sem conta para a tua fotografia, de como tento criar a ilusão de que estás junto de mim e eu junto de ti… mas no fim sinto-me longe e de colo vazio.

se soubesse o que te dizer, dir-te-ia que sou nut, a deusa, e que do meu corpo farei um escudo impenetrável entre ti e o caos, que sou belorofonte, o herói, e que banirei todos os teus monstros e quimeras, que sou parcival, o cavaleiro, e que expulsarei do teu mundo todo o mal, o sofrimento e a escuridão… mas na verdade sou fraca, pequena e incapaz seja do que for.

se soubesse o que te dizer, dir-te-ia as palavras serenas que precisas de ouvir, acalmaria a ansiedade, afastaria a angústia, inventaria a esperança. choraria em silêncio as tuas lágrimas, acordaria gelada com os teus pesadelos, sufocaria na opressão do teu peito, suportaria a tua solidão… mas não sei o que te dizer... não sei o que fazer.

dir-te-ei que o meu carinho e amizade por ti são absolutos e incondicionais. dir-te-ei que te adoro e que estou aqui.
para ti, IV
b. b. booker
agosto de 2008

quinta-feira, 21 de agosto de 2008

photo grafia III

"há dias na vida de um ateu em que é vital acreditar"
árvores vistas por quem se deita de costas no chão, carvalhelhos - serra do gerês
m. artmaker
abril de 2008

terça-feira, 19 de agosto de 2008

portugal nos jogos olímpicos de pequim


Sinto hoje – e comigo muitos portugueses – que somos uns coitadinhos. E a razão para tal sentimento é muito simples: é que – apesar do faz de conta, da gabarolice e da esperteza saloia – nós somos, efectivamente, uns coitadinhos.
E somos coitadinhos porque não sabemos estar à altura das situações, nem ter a contenção e dignidade que cada momento merece. Somos coitadinhos porque somos pobres de espírito e nos lançamos ao pescoço uns dos outros ao menor sinal de deslize, desatamos atribuir culpas ao primeiro sintoma de fracasso, e nos achamos capazes de criticar e fazer juízos de valor sobre o que não conhecemos nem compreendemos.
Os últimos dias, e sobretudo as últimas 24 horas, têm sido profícuos em trocas de mimos entre “portugueses descontentes”, os atletas da Missão Portuguesa e o próprio Comité Olímpico de Portugal, tudo patrocinado, está bom de ver, pela nossa sempre oportuna Comunicação Social.
Os “portugueses descontentes” mostram-se sobretudo indignados pela noção generalizada de má prestação dos seus atletas, agravada pelos comentários pouco felizes que são proferidos no fim das provas. E, afinal de contas, isto sai tudo do nosso bolso. Em primeiro lugar: não, não sai. Uma parte significativa do orçamento sai dos bolsos dos patrocinadores oficiais, e dos oficiosos; que são sempre (e sempre serão) os paizinhos dos atletas, eles próprios e restante família. Para quem não sabe, um atleta olímpico demora uma vida a criar e não os 4 ou 5 anos de calendário que cabem nos projectos dos comités olímpicos de cada país e que antecedem os grandes eventos. E para que não haja dúvidas de quem pagou o quê, todos esses planos de actividades, orçamentos e relatórios são públicos, e podem ser consultados no site oficial do C.O.P. Pelo contrário, o esforço, motivação e sacrifícios são totalmente da responsabilidade dos atletas e respectivas famílias, que aí os “portugueses” que contribuem são muito poucos. Os restantes entram agora em acção a exigir resultados de excelência de alguém cuja existência desconheciam até ontem ter competido numa modalidade que não sabem muito bem o que é…
Porque desporto que é desporto em Portugal é o futebol e tudo o que ele acarreta de arguidos e processos em tribunal, madeixas de cabelo e tatuagens nas costas, frases feitas e fogo-de-artifício, parangonas de jornal e debates televisivos de baixo nível. Não temos uma cultura desportiva de modalidades olímpicas, e quanto mais depressa o assumirmos, tanto melhor para todos. Não somos sequer um povo sensível aos fundamentos do olimpismo. Não faremos nunca sombra a equipas de atletas oriundos de países que dedicam não só esforços financeiros e políticos, mas também todos os recursos necessários para que, no estádio olímpico e perante os olhos do mundo, possam elevar os seus atletas – e, por arrasto, todo o seu povo – ao nível de heróis da antiguidade. Os nossos heróis, aqueles que temos por vício achar que foi o país que pariu e de cujas vitórias também chove algum mérito para os restantes “portugueses”, são heróis única e exclusivamente por mérito próprio. São absolutamente excepcionais. Não são nem nunca foram a norma no nosso país.
É típico do português – ou talvez da natureza humana – ser-se muito exigente com os outros enquanto se vai guardando uma tolerância evangélica para si próprio. E os senhores jornalistas façam um favor à nação: deixem de entrevistar os atletas nas horas que se seguem às provas. Só quem nunca competiu é que pode pensar que resta uma pinga de sangue a irrigar o cérebro daqueles rapazes e raparigas depois do esforço físico, mental e emocional por que passam. É verdade que o Marco Fortes – jovem de 25 anos, estudante do ensino secundário, atleta do Sporting Clube de Portugal e participante na prova de lançamento do peso – foi profundamente infeliz ao tentar ser engraçadinho nas suas declarações à comunicação social. Foi um momento mau. E lá estava o bom repórter a registar para a posteridade e retransmitir até à náusea o segundo mau momento do atleta naquele dia. Abençoados de nós que erramos escabrosamente na vida sem duas dúzias de repórteres e vinte milhões de olhos em cima.
Muitos dos elementos da equipa olímpica foram deselegantes nas suas declarações. Inclusivamente o Presidente do Comité Olímpico de Portugal que, querendo controlar os comentários dos atletas, devia ter providenciado atempadamente para toda a delegação, a preparação necessária para tourear a comunicação social – sessão de formação a que deve também comparecer – ou, em última análise, mandá-los calar quando achasse que se estavam a ‘esticar’. O que ele não devia fazer era vir, ele próprio, para a comunicação social, acusá-los de dar desculpas esfarrapadas, falta de brio e profissionalismo. Como raio é que se acusa de falta de profissionalismo atletas que estão a representar um país que não lhes dá as condições para pôr a cantar um cego, quanto mais para se profissionalizarem?
Se Vânia Silva – professora de Educação Física de 28 anos, atleta do Juventude Vidigalense e participante nos jogos na modalidade de lançamento do martelo – fizesse ideia de que vários milhões de portugueses se interessam, não só pelo desporto que pratica, mas pelas palavras que diz perante a câmara e o microfone pouco depois de ver desfeitos os seus sonhos de qualificação, talvez tivesse feito outro discurso, ou dado uma desculpa menos esfarrapada. Está tudo dito quando ouvimos o testemunho singelo de Marcos Freitas – 20 anos, natural do Funchal e atleta que representa Portugal na modalidade de Ténis de Mesa – quando diz que não há desculpas para dar porque nunca teve condições de treino e trabalho como as que lhe são apresentadas em Pequim.
Não nos devemos sentir minimamente envergonhados por a Naíde Gomes ter pisado o risco duas vezes ou ter sido eliminada. Ficarmos tristes talvez. Desiludidos, sem dúvida. Mas a verdadeira vergonha é a troca de ‘recados’ e o mal-estar que se sente tanto aqui como lá, e tudo isto numa arena altamente mediática e internacional.
A vergonha é que um atleta com a estatura do Gustavo Lima diga que não pode mais sujeitar-se à vida que leva como atleta e sinta que não valeu a pena. É uma vergonha, mas não é para ele. Pergunto quantos dos “portugueses descontentes” teriam chegado onde ele chegou. Devemos ficar tristes que ele se sinta assim, sobretudo porque não nos é possível compreender ou pôr em causa o que ele sente. O esforço foi seu, o desgosto é seu, e o orgulho pela excelente classificação que teve é também, obrigatoriamente, só seu.
Outra excelente prestação desportiva foi a da Vanessa Fernandes. Foi uma alegria para todos, não há dúvidas. Tivesse ela sido diferente dos demais, tivesse ela passado ao largo da ‘polémica’ e dito uma perfeita banalidade vazia de conteúdo do tipo “por um minuto/centímetro/ponto se ganha e se perde” ou “o desporto é assim mesmo”, teria saído destas olimpíadas como uma verdadeira campeã.
Num dos documentos oficiais do C.O.P. disponíveis on-line podemos ler que “No Desporto há muitas incógnitas e variáveis sendo curta a distância da glória ao fracasso”. O que não diz é que a dignidade não deve nem pode ser uma incógnita ou uma variável, mas antes a única constante, na vitória como na derrota. É preciso ter consciência que a esmagadora maioria dos atletas presentes em qualquer competição dos Jogos Olímpicos vai regressar a casa sem medalhas no bolso. É preciso ter consciência que para a esmagadora maioria de nós nenhum destes estrondosos fracassos irá algum dia acontecer, porque não temos qualidade para tal. É preciso ter consciência de que eles falharam, mas nós falhámos mais.
r. bewusstsein
agosto de 2008

segunda-feira, 11 de agosto de 2008

a história da girafa da cor do céu


Num Verão quente, o fim da tarde passava muito devagarinho, enquanto o sol se punha atrás de uma colina verde salpicada de oliveiras, ao som do cantarolar de um melro gorducho e lustroso. Na cadeira do alpendre mãe e filho embalavam-se um ao outro. Banho tomado, jantar comido, o filho encaixado de lado ao colo da mãe, braço em volta do flanco, cabeça pousada no ombro, respiração funda, olhinhos pesados.
– Mãe… – diz o filho baixinho.
– Sim, amor? – responde a mãe.
– O pôr-do-sol é bonito não é? – pergunta o filho.
– É sim, amor. É muito bonito. – diz a mãe. – Sabes, quando eu era pequenina, assim da tua idade, a avó contou-me uma história sobre um pôr-do-sol.
– Uma história do pôr-do-sol? – diz o menino, curioso.
– Sim, uma história sobre um pôr-do-sol. Um pôr-do-sol num sítio muito longe daqui, onde a terra é castanha e o céu é laranja e vermelho. A avó contou que é tão bonito, tão bonito, que quem o vê nunca mais esquece aquelas cores, aqueles sons e aqueles cheiros.
– E que mais te contou avó? – pergunta a criança.
– Contou que um dia ela estava sentada na savana…
– Mamã… – interrompe o menino, – O que é uma savana?
– A savana é uma terra muito grande, sem montes nem montanhas, que se estende por todos os lados para onde podemos olhar. A terra é amarelada e só tem alguns arbustos e umas poucas árvores para fazer sombra e pintalgar de verde a paisagem.
– Está bem. – diz o filho satisfeito com a explicação.
– Então… – continua a mãe. – Estava a avó sentada na savana e à medida que chegava o fim da tarde, como agora, viu o sol a pôr-se. A terra foi ficando mais escura, mais escura, até parecer quase negra. O céu também escurecia e ficava da cor do fogo; primeiro amarelo, depois laranja e por fim cada vez mais vermelho. O sol como uma grande bola redonda muito brilhante e quase branca, foi descendo, descendo até desaparecer numa toca muito longe escondida no horizonte.
– Mamã… – interrompe o menino novamente, – O que é o horizonte?
– O horizonte é aquela linha que vemos lá ao fundo, onde a terra e o céu se tocam, – explica a mãe enquanto aponta, – Vês além?
– Vejo mamã. – responde a criança. – Deve ser um pôr-do-sol mesmo muito bonito!
– E é mesmo, filhinho. Muito, muito bonito.
– E depois, o que é que aconteceu mais? –
– Depois, quando o sol já estava meio escondido na terra, lá ao fundinho, – continuou a mãe – a avó viu a passar uma girafa…
– Uma girafa? – pergunta a criança.
– Uma girafa! – responde a mãe.
– Sabes qual é a melhor coisa das girafas, mamã? – pergunta o filho.
– Diz lá amor.
– É que as girafas conseguem limpar os ouvidos com a língua!
– Isso é muito interessante, filho!
– E o que é que aconteceu depois?
– Depois a girafa parou a conversar com a avó, porque a avó sabe falar a língua de todos os animais, – continua a mãe.
– De verdade?
– De verdade!
– Mesmo assim… falar, falar… como nós estamos a falar? – certificou-se a criança enquanto apontava para a mãe e para si próprio, ao mesmo tempo que dizia que sim com a cabeça com os olhinhos muito arregalados.
– Tal e qual! – assegurou a mãe.
– E como se chamava a girafa amiga da avó? – quis saber o menino.
– A girafa chamava-se Gaia. Era muito alta e bonita. Tinha um pescoço muito comprido, mais comprido do que qualquer outro animal, e um pelo alaranjado da cor do céu ao pôr-do-sol, com manchas castanhas da cor da terra.
– Devia ser muito bonita. – diz o filhinho.
– E era mesmo. – Responde a mãe. – A girafa chamada Gaia contou à avó que desde que era uma girafinha pequena, mal começou a esticar o pescocito para ver mais longe, queria ver para além do horizonte e descobrir para onde ia o sol quando deixava o céu e se escondia na terra. Contou que quando cresceu decidiu ir atrás desse sítio chamado horizonte, e que um dia, se despediu da família e dos amigos, e partiu numa grande viagem ao encontro do pôr-do-sol.
– E então? Encontrou-o? – diz ansiosa a criança.
– Foi exactamente o que a avó lhe perguntou. – explicou a mãe.
– E ela?
– A girafa contou que tinha viajado muitos, muitos dias. Que tinha visto muitas vezes o sol a pôr-se. E contou que quando caminhava sob as árvores da floresta, nunca perdia o sol de vista por entre os ramos altos e cheios de folhas verdes. Então viu o sol a atravessar as árvores em raios de luz que faziam brilhar mil e um tons de verde. Depois o pôr-do-sol vinha de mansinho, e a floresta escurecia debaixo de um cobertor de folhas, enquanto o céu passava de azul para um arroxeado quase mágico e um sol mais fraquinho se ia escondendo numa cama de folhagem, lá longe no horizonte.
– Que lindo, mamã! – exclama o menino.
– Pois é, amor. – diz a mãe. – A girafa chamada Gaia contou ainda que viajou por um grande deserto. Aí não havia árvores. Para onde olhava só via montanhas de areia branca e mal podia olhar para o sol, porque era muito claro e forte e magoava-lhe o corpo e os olhos. No deserto, quando o sol se punha o céu reflectia as cores do deserto em nuvens de algodão amarelo-torrado, e desaparecia aos poucos atrás de uma duna de areia longínqua.
– Amarelo-torrado da cor das torradas com manteiga? – pergunta o filho.
– Exactamente. – diz a mãe. – A girafa contou à avó que ao atravessar a savana pôde, de vez em quando, abrigar-se à sombra de uma ou outra árvore. O sol não era tão forte como no deserto e corria uma brisa fresca que a girafa chamada Gaia não sabia de onde vinha, mas que sabia muito bem. E aí era tal e qual como a avó contou: deixavam de se perceber as cores das árvores e da terra, ficavam só os contornos a negro que se recortavam num céu mais vermelho onde o sol se escondia lá muito longe, junto da linha do horizonte.
– E foi aí que a girafa encontrou a avó? – perguntou o menino.
– Não, amor, ainda não foi aí. – explicou a mãe. – Isso foi depois.
– Então?
– A girafa continuou a sua viagem até que um dia, a terra acabou e a girafa de nome Gaia chegou às margens do mar.
– Chegou à praia?
– Sim filho chegou à praia.
– E depois?
– A girafa ficou maravilhada com a imensidão do oceano e com o som que faziam as ondas a enrolar conchinhas na areia e ficou a ver o sol a pôr-se no mar. E então, entre o azul do céu e o azul do mar desceu um sol vermelho como o fogo que parecia mergulhar nas águas e incendiá-las também com a sua cor.
– Oh mãe… – diz a criança.
– Diz filhote. – responde a mãe.
– As girafas sabem nadar? – pergunta o menino.
– Não amor. A girafa Gaia não pôde continuar a sua viagem. Teve de voltar para trás, e foi na sua viagem de regresso que encontrou e parou a conversar com a avó. – explicou a mãe.
– Ah. E ela não ficou triste?
– A avó também perguntou o mesmo e sabes o que ela respondeu? – perguntou a mãe.
– Não. – diz o filho. – O que foi?
– Ela respondeu que a viagem tinha sido maravilhosa e que tinha visto coisas muito bonitas que nunca podia imaginar que existiam. Sabia agora que nunca podia chegar ao horizonte e ao sol porque eles viajavam com ela sempre, sempre mais além. A girafa contou à avó que se sentia muito feliz pelas histórias que tinha para contar aos seus amigos. A avó disse-lhe que também estava muito feliz por se terem conhecido, e foi assim que se despediram. A girafa continuou o seu caminho e a avó ficou a ver o pôr-do-sol.
– Que bonita história mãe! – diz o menino.
– Pois é filho. – concorda a mãe.
– Eu também gostava de ir até ao horizonte… Achas que posso?
– Claro meu amor! Um destes dias falaremos sobre isso…

b. b. booker
agosto de 2008

terça-feira, 5 de agosto de 2008