Há dias em que não se pode estar de bem com a vida. Ela rouba-nos
fatias imensas da alma e deixa-nos o que sobra em pedaços descosidos, onde nos sentimos
invadir por toda a sorte de correntes de ar. Depois o frio inverte-se de espaços
e vem habitar cronicamente os corredores da nossa existência desconjunta. É suposto
aceitarmos tudo com a indulgência palermamente universal de que, afinal, é a
vida.
Não me consola que seja a vida. Já nem me consola o fim do sofrimento.
Não me consola nada porque estou triste. Porque sou egoísta na minha tristeza e
na carência que sinto a criar vazios onde antes costumavam morar coisas muito inteiras.
Escrevo porque não sei fazer sentido de nada. Não estou de
bem com a vida e não tenho outra forma de lho dizer. Acusá-la de imperfeita nas
contas que faz e nas sentenças que impõe. Dizer-lhe que é injusta e cruel e
indizivelmente estúpida.
Há dias assim, em que ficamos sós com o silêncio e a saudade
e não sabemos o que lhes fazer.
Datas malfadadas.
ResponderEliminar