Sentou-se ao meu lado no banco do jardim uma história
tímida. Carregava, apesar da leveza aparente, uma concretude e uma dignidade merecedoras. De escrever e de contar. Trazia um personagem. Um só mas muito espesso e complexo, com toda
a longevidade de tons entre o ódio de um sicário e a musicalidade de um anjo.
Perdi-me de amores por ela – a história – e também por ele – o personagem. As
mãos tremeram-me e todas as palavras se adivinhavam já em mancha fluente no que
outrora havia de brancura em páginas novas. Mas o sol, que fora escasso por
esses dias, aquecia-me agora de mansinho contra o banco do jardim. E eu,
perdida de amores por ela – a história – e também por ele – o personagem –
fechei os olhos e pousei as mãos trementes. Suspirei imóvel na quentura do dia
e a história do personagem ficou, suspiradamente, por contar.
raquel patriarca | vinteeseis.janeiro.doismiledezoito
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