quinta-feira, 8 de março de 2018

porque deus é uma mulher

Pulso Aberto 
Maria Rezende

Somos porta de entrada
e de saída
somos deusas e escravas
há mil gerações
Dentes afiados
no escuro de entre as pernas
veneno na ponta da cauda
bruxas putas loucas santas
Somos as que sangram sem ferida
donas do prazer
donas da dor
as invisíveis
as perigosas
as pecadoras
as predadoras
Insaciáveis e geradoras
os corpos secretas casas
somos seres de unhas e tetas
caminhando aos milhares as estradas
Somos a terra e a semente
carne de aluguel em alma de rainha
as submissas as bacantes
as que procriam e as que não
Somos as que evitam o desastre
as que inventam a vida
as que adiam o fim
mulher
multidão

por: Maria Rezende
in: Naquela Língua (cem poemas e alguns mais) : antologia da novíssima poesia brasileira. - Amadora : Elsinore, 2017.

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