CAPÍTULO 8
O SELO SAGRADO
O Professor convidou-nos a descansar em camas que pareciam ninhos pendurados na sua árvore. Ou melhor, na árvore que era ele. Foi como se tivéssemos passado a noite ao seu colo e acordámos muito cedinho, completamente novos.
O caminho para o lugar sagrado onde se guardava o Selo do povo ocultiano parecia não ter fim. Talvez não fosse assim tão longe, mas para mim, que estava desejosos de lá chegar, parecia a estrada para o fim do mundo. Os ocultianos moviam-se de uma forma estranha. A Arya desaparecia de repente aqui, para aparecer lá adiante, e ficava a apanhar flores enquanto esperava por nós. O Box viajava completamente incógnito, transformado em poeirinhas douradas, e só sabíamos onde ele andava porque estava tão excitado como nós, e levou o caminho todo a soltar risadinhas nervosas. O Professor planava. Assim mesmo, não há outra maneira de o descrever. Ia alto e direito, de olhos fechados e a cara muito estendida para o céu, os braços cruzados em frente ao peito, as pernas imóveis e os pés paralelos ao chão, mas sem lhe tocar. Planava a uns vinte centímetros da relva a uma velocidade que nos obrigava a acelerar o nosso próprio passo.
O Selo Sagrado começou a ver-se a uma grande distância e era uma visão verdadeiramente impressionante. No centro de uma enorme planície repousava um círculo de pedras gigantescas, alinhados na perfeição. A seguir, num círculo concêntrico mais pequeno, corria uma espécie de rio de águas o mais transparentes que alguma vez tínhamos visto. No centro de tudo, guardava-se um altar em pedra. Quando nos aproximámos percebemos que toda a superfície das rochas estava gravada com símbolos.
– Olha! – admirou-se a Teresa, – isto são hieróglifos. Lembro-me de os ver no livro de História.
– E aqui parecem caracteres árabes. – disse a Joana de um outro ponto do monumento. – E ali o alfabeto cirílico, e o romano, e estes parecem símbolos chineses….
– Sou capaz de jurar que vi este gatafunho num livro de Matemática… – disse o Filipe, – o Pi ou lá o que é!
– Como é que há aqui gravações de todas as escritas e línguas do mundo? – perguntei ao Professor.
– Somos todos uma só família – respondeu ele solene, – Todas as linguagens são uma só linguagem. Agora, Alex, anda cá.
O meu corpo tremia todo sem eu poder evitar de tão ansioso eu estava. Tinha logo de ser eu o primeiro!
Atravessei o rio e a água, que mal me passou os joelhos, estava agradavelmente morna. O Professor guiou-me até ao altar e pousou as minhas mãos sobre a pedra gravada. Ele fechou os olhos e eu imitei-o. Ele começou a murmurar um cântico e eu imitei-o outra vez. E o meu corpo continuava a tremer e a aquecer um pouco e a formigar por todo o lado. Desta vez, já não eram os nervos, era a matéria a transformar-se em mim.
Senti-me, de repente, inacreditavelmente leve. Abri os olhos e tudo à minha volta era luz. O Filipe, a Teresa e a Joana olhavam para mim de boca aberta e eu percebi que algo maravilhoso tinha acontecido. Olhei para as minhas mãos, mas só havia luzinhas brilhantes. Voltei a fechar os olhos, pensei na tília que a minha avó tem no quintal e quando voltei a olhar para as minhas mãos, eram ramos, fortes, cheios de folhas verdes e florinhas brancas.
– Que cheirinho! – disse a Teresa.
– Meu! Estás um espectáculo – disse o Filipe.
– Agora é a minha vez! – disse a Joana.
E, um de cada vez, todos repetiram o mesmo ritual. A Joana transfigurou-se numa água-viva que parecia nadar suspensa sobre o altar, a Teresa foi substituída por uma enorme quantidade de borboletas, com tonalidades que faziam lembrar as cores das gomas, e o Filipe, claro, apareceu de tiranossauros rex.
No fim, abraçámo-nos muito. Pela felicidade que sentíamos, e, também, porque sabíamos que estava a chegar a hora de regressar.
Antes de partirmos, o Professor deu uma pequena pedra a cada um de nós. Eram muito circulares e achatadas, lisas como os godos da praia, e cabiam-nos na palma da mão. Cada uma tinha gravado um símbolo diferente. Eu tinha uma folha de árvore, a Joana recebeu umas ondas, a Teresa, uma espiral e o Filipe o símbolo de Pi.
– Nestas pedras repousa o espírito do Selo Sagrado. O poder que receberam é grande e precisa de ser respeitado. – disse o Professor. – Sejam cuidadosos.
Mais uns abraços com muitas promessas de visitas, antes de partirmos, finalmente, rumo ao nosso planeta Terra, feitos em partículas de luz, entregues à infinitude do espaço.
Pelo caminho descobrimos que éramos capazes de comunicar entre as nossas consciências, como numa telepatia conjunta. Decidimos que havíamos de partilhar este poder apenas com pessoas que o merecessem.
Amigos da nossa escola? Não, isso seria limitado. Do nosso país? Mas como, se somos todos uma só família. Boas-pessoas? E como é que vamos saber se são boas ou não? As crianças! É isso mesmo. Vamos partilhar este poder com todas as crianças do mundo.
Sem comentários:
Enviar um comentário